Restauração de ambientes do bicudinho-do-brejo pelo manejo das braquiárias-d’água (Urochloa spp.)

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26 de agosto de 2020, notícia publicada pelo Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais.

Entre 2012 a 2016, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza apoiou a execução de um programa do Mater Natura que desenvolveu técnicas pioneiras para o manejo e a erradicação das braquiárias-d‘água, que são espécies de capim de origem africana, invasoras de ecossistemas estuarinos da Baia de Guaratuba. O objetivo principal do programa foi o de recuperar os ambientes naturais e monitorar a resposta da flora e da fauna nativa, em especial o da ave ameaçada de extinção bicudinho-do-brejo.

Esse programa não tinha a incumbência de acabar com essas plantas exóticas invasoras, pois são muitos hectares invadidos e novos focos de contaminação sempre ocorrem a partir de pontos invadidos à montante dos rios. As braquiárias-d’água desenvolvem-se em pastagens e chegam à beira de rios, onde cheias as desprendem e fixam-nas rio abaixo, no estuário, perpetuando a contaminação e os impactos sobre os brejos e manguezais. Em outras palavras, esse tipo de manejo é para toda a vida, assim como também é para sempre as tentativas de captar recursos financeiros para o contínuo processo de manejo e recuperação ambiental.

Neste mês de agosto, o Mater Natura obteve financiamento para a continuidade das atividades de manejo da braquiária e de conservação do bicudinho-do-brejo, por intermédio de recursos advindos da compensação ambiental por atividade de degradação da natureza, os quais foram repassados pela 1ª. Vara Federal de Paranaguá da Justiça Federal do Paraná, mediante indicação e supervisão técnica do projeto pela Superintendência do IBAMA no Paraná.

O projeto terá a duração de um ano e o objetivo de implantar ações de manejo na baía de Guaratuba em áreas em que braquiárias-d’água (Urochloa arrecta e U. mutica) invadiram ambientes de ocorrência do bicudinho-do-brejo. Seu início será em setembro desse ano e as ações consistirão na roçada da biomassa vegetal invadida com braquiárias, empilhamento dessa biomassa para que não seja espalhada pelas marés altas e constante revisão para a remoção dos brotos (Figuras 1-3). Em aproximadamente seis revisões se consegue retirar todos as rebrotas e o ambiente segue livre das exóticas no seu processo natural de recuperação.

Tal qual nas experiências anteriores, as atividades de manejo serão monitoradas para a verificação da área recuperada, velocidade de recomposição vegetal e para o acompanhamento do bicudinho-do-brejo. Essa espécie é restrita a uma pequena porção do litoral sul do Brasil e tem na invasão das braquiárias-d’água a maior ameaça ao seu ambiente. Com o ambiente natural muito invadido pelas braquiárias-d’água, os bicudinhos-do-brejo não conseguem mais se deslocar na massa de vegetação e perdem o seu hábitat, do qual dependem para a alimentação, abrigo e reprodução.

Figura 1. Área que originalmente era um brejo de ocorrência do bicudinho-do-brejo e que estava invadida por braquiárias-d'águaafricanas. As pilhas são a biomassa seca após roçada. Os bambus fixam as pilhas para não serem carregadas pela maré alta (no caso, a maré está apenas começando a encher). Foto: Marcos R. Bornschein (2015).
Figura 1. Área que originalmente era um brejo de ocorrência do bicudinho-do-brejo e que estava invadida por braquiárias-d’água africanas. As pilhas são a biomassa seca após roçada. Os bambus fixam as pilhas para não serem carregadas pela maré alta (no caso, a maré está apenas começando a encher). Foto: Marcos R. Bornschein (2015).
Figura 2. Aqui temos três cenas, uma central indicando área sob manejo, uma à direita indicando o brejo invadido pelas braquiárias-d'águae uma à esquerda mostrando um brejo em recuperação após o manejo (vegetação em verde-escuro). Foto: Marcos R. Bornschein (2015).
Figura 2. Aqui temos três cenas, uma central indicando área sob manejo, uma à direita indicando o brejo invadido pelas braquiárias-d’água e uma à esquerda mostrando um brejo em recuperação após o manejo (vegetação em verde-escuro). Foto: Marcos R. Bornschein (2015).
Figura 3. Manejo de uma área invadida pelas braquiárias-d'água logo após a roçada. Notem que há uma grande quantidade de biomassa roçada flutuando que ainda não está nas pilhas. Quando a maré desce, esse resto de vegetação é rastelado e preso nas pilhas para evitar que se espalhe. Ao fundo, tem-se um brejo invadido pelas braquiárias-d'água. Foto: Marcos R. Bornschein (2016).
Figura 3. Manejo de uma área invadida pelas braquiárias-d’água logo após a roçada. Notem que há uma grande quantidade de biomassa roçada flutuando que ainda não está nas pilhas. Quando a maré desce, esse resto de vegetação é rastelado e preso nas pilhas para evitar que se espalhe. Ao fundo, tem-se um brejo invadido pelas braquiárias-d’água. Foto: Marcos R. Bornschein (2016).

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