18 de outubro de 2019, notícia publicada pelo Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais
Primeiro dia de debates relacionados à Mata Atlântica e aos Corredores de Biodiversidade foi marcado pela troca de experiências e pela conectividade entre áreas de restauração e atores
A reunião da Rede Trinacional pela Restauração da Mata Atlântica iniciou, nesta quinta-feira (17), as atividades do III Seminário do Corredor de Biodiversidade do Rio Paraná e do I Seminário do Corredor de Biodiversidade das Araucárias, que se estendem até o dia 19, em Foz do Iguaçu, no Refúgio Biológico Bela Vista – Itaipu Binacional, e no Parque Nacional do Iguaçu. São foco do evento os desafios, oportunidades e perspectivas da restauração ecológica da Mata Atlântica, envolvendo corredores de biodiversidade do Rio Paraná e de Araucárias, no Brasil, Argentina e Paraguai.
Os seminários são organizados pelo projeto Corredores de Biodiversidade, executado pelo Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais e financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em conjunto com a Rede Gestora do Corredor de Biodiversidade do Rio Paraná, criada há dez anos. A seleção de áreas prioritárias para restauração e a articulação em rede são os principais aspectos do projeto, segundo o presidente do Mater Natura, Paulo Pizzi. “Além disso, ele promove a conectividade entre as áreas e atores envolvidos, que deixam de ser fragmentos separados. Essas características foram o pontapé inicial para dar continuidade às possibilidades de restauração discutidas nos seminários”, diz.
No primeiro dia da programação, essa conectividade ficou evidente especialmente após os resultados da reunião da Rede Trinacional, apresentados pelos grupos de trabalho que debateram e identificaram desafios e oportunidades da atuação conjunta para a restauração ecológica na região. A iniciativa dessa articulação trinacional é coorganizada pela WWF-Brasil, WWF-Pay, Fundação de Vida Silvestre da Argentina (FVSA), Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (Pacto), Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), Ecosia e Mater Natura.
O analista de conservação do Programa Mata Atlântica da WWF, Daniel Venturi, lembrou da importância da região do Rio Paraná, onde se localiza um dos corredores para a conservação da biodiversidade em nível global. É onde habita a maior população de onças-pintadas na Mata Atlântica, espécie ameaçada de extinção no mundo. A região mantém apenas 7% de sua cobertura original de floresta, mas a restauração ao longo dos anos tem sido vital para a melhora das áreas, segundo a organização. “Ao reunir todos esses parceiros e experiências para formar uma rede internacional, queremos aprender e pensar juntos, e usar isso para mitigar o impacto climático, apoiar a conservação da biodiversidade tão ameaçada na Mata Atlântica e apoiar a restauração de florestas nesse território internacional”, explica.
Experiências anteriores de organizações envolvidas também foram apresentadas, como o modelo de governança utilizado pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica. De acordo com a coordenadora nacional do Pacto, Ludmila Pugliese, a experiência foi realizada em nível nacional e internacional, inclusive em um projeto de proteção da Amazônia. “Algo que se destaca nesse modelo e que pode beneficiar o processo da Rede é a plataforma geoespacial utilizada pelo Pacto, na qual são incluídos os projetos de restauração que estão sendo executados e os registros de recuperação da vegetação nativa, ponto muito importante quando se fala de restauração ecológica”, comenta.
O principal resultado esperado pela Rede Trinacional é a restauração de paisagens florestais em grande escala. Entre os desafios encontrados durante a reunião e apontados pela palestrante do evento e líder global de restauração do WWF, Anita Diederichsen, estão a própria diversidade de idiomas e de culturas distintas – o que também pode ser muito positivo, conforme o ponto de vista – e a necessidade de, justamente por essa diversidade, garantir uma comunicação efetiva entre os atores. Entre as oportunidades, ela frisa a promoção de trocas e aprendizados e o fortalecimento de um país a outro na implementação de políticas públicas sobre restauração.
Para a continuidade da construção da rede, foi proposta a realização de webinars com os parceiros, para compartilhar a sistematização dos resultados da primeira reunião e definir próximos passos. Em paralelo à reunião da Rede Trinacional, foi realizado um encontro para identificar também os desafios e oportunidades do Corredor das Araucárias.
Década de Restauração
À noite, foi realizada a abertura oficial dos seminários. Participaram da mesa o superintendente de Gestão Ambiental da Itaipu Binacional, Ariel Shefer da Silva; o chefe do Parque Nacional do Iguaçu, Ivan Baptiston; o gestor do BNDES, Márcio Macedo da Costa; o analista de conservação do Programa Mata Atlântica da WWF, Daniel Venturi; a coordenadora nacional do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Ludmila Pugliese e o coordenador do projeto Corredores de Biodiversidade, do Mater Natura, Marcelo Limont.
Após a abertura, a bióloga e analista ambiental do Consórcio Intermunicipal para Conservação do Remanescente do Rio Paraná e Áreas de Influência (Coripa), Letícia Araújo, palestrou sobre a conectividade entre a paisagem e a restauração ecológica, mostrando os resultados de sua tese de doutorado, que utilizou municípios-chave da região do Alto Paraná, dentro do corredor, para analisar padrões de paisagem. “Correlacionamos os padrões com indicadores sociais, econômicos e ambientais para chegar ao status de sustentabilidade de cada município”, relatou.
Encerrando as atividades, a líder global de restauração do WWF, Anita Diederichsen, falou sobre as perspectivas para restauração no mundo. Ela ressaltou que, conforme declarado pela ONU, de 2021 a 2030, vamos passar pela Década sobre Restauração de Ecossistemas, o que revela a essencialidade do tema em nível global. Diederichsen uniu ao tema de sua palestra a criação da Rede Trinacional e a necessidade de uma governança forte para que os resultados desejados sejam alcançados. “São necessários atores que saibam trabalhar em conjunto e que também avançar sobre como esse trabalho vai ser operado”, aponta.
A especialista também ressaltou a importância do envolvimento, tanto do setor público quanto do privado, na restauração de paisagens. “A partir da construção desse objetivo comum e com os atores alinhados, as oportunidades surgem, assim como mais fontes de financiamento”.