09 de janeiro de 2021, notícia publicada pelo Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais.
Atualizado em 14 de janeiro de 2021.
Mesmo com a pandemia de COVID-19 em curso durante o ano de 2020, a equipe responsável pela execução do projeto “Conservação de duas espécies de peixes anuais criticamente ameaçadas de extinção no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo”, conseguiu realizar algumas expedições a lugares com acesso bastante difícil na região de Iguape – SP. Tomando todas as medidas de proteção individual e coletiva, e com autorização das autoridades sanitárias e ambientais da região, os pesquisadores do projeto realizaram uma descoberta bastante interessante: registraram a ocorrência do peixe-anual-de-Iguape, Campellolebias dorsimaculatus (Figuras 1 e 2), em uma nova localidade.
O achado foi muito comemorado pela equipe executora do projeto e por outros parceiros, como a coordenação do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Rivulídeos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), já que a espécie estava “desaparecida” há cerca de 10 anos. Uma descoberta muito relevante, pois essa espécie de peixe anual está classificada como “criticamente em perigo” pelas autoridades, o que significa que o seu risco de extinção é muito alto. Por isso os pesquisadores irão monitorar o novo local de ocorrência e também tentar estruturar um plantel de reprodutores em cativeiro, para que ações de conservação integrada, envolvendo estratégias in situ (na natureza) e ex situ (em aquários localizados em centros de pesquisa) possam ser realizadas. O projeto também irá promover a divulgação desse achado junto às escolas situadas no entorno da área de ocorrência da espécie, buscando informar professores e estudantes de diferentes níveis sobre a importância de se conservar ambientes como a restinga (fisionomia vegetal pertencente ao bioma Mata Atlântica, no qual C. dorsimaculatus ocorre) e de se promover o uso sustentável dos recursos naturais.
Os peixes rivulídeos vivem em ambientes aquáticos temporários que podem ser poças, lagos, lagoas, alagados, brejos e áreas marginais de riachos que se formam pela água empoçada durante as épocas chuvosas. O ciclo de reprodução é veloz. A água da chuva empoçada faz eclodirem os ovos fertilizados no substrato (cascalho, argila, areia e lama). Dentro de aproximadamente um mês, os animais, já adultos, estão aptos para um novo ciclo de reprodução. No máximo, eles vivem por nove meses, e não sobrevivem para verem seus filhos. Quando recomeçam as chuvas, o ambiente volta a alagar e os ovos eclodem formando nova população com as larvas então em forma de peixinhos, daí originando outro nome popular: peixes anuais (ICMBio, 2020).
Com a chegada da Década da Restauração de Ecossistemas (2021-2030), definida em uma Assembleia Geral das Nações Unidas, esperamos poder contribuir com o plano global da ONU para reunir apoio e executar ações para ampliar massivamente a restauração e a conservação de biomas como a Mata Atlântica. Essa abordagem irá auxiliar a promover a manutenção de hábitats críticos de espécies com distribuição geográfica bastante restrita, como o peixe-anual-de-Iguape, C. dorsimaculatus, cuja principal ameaça de extinção está relacionada justamente a destruição do seu hábitat.