28 de outubro de 2019, notícia publicada pelo Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais.
O segundo dia do Seminário contou com quatro mesas de debate relacionadas a aspectos de destaque sobre a restauração ecológica em ambos os corredores.
Na primeira mesa foram abordadas experiências de restauração ecológica que já são realizadas nos dois corredores. “Temos várias organizações que atuam nesse contexto e que têm know how de várias décadas de trabalho. Mas as organizações que participaram da mesa puderam compartilhar um pouco de seus trabalhos para trazer um panorama geral”, comenta o coordenador do projeto Corredores de Biodiversidade, Marcelo Limont.
Experiências em restauração ecológica
As experiências da Itaipu Binacional no Brasil, compartilhadas por Edson Zanlorenzi e Veridiana Pereira, da Itaipu Brasil, e Natalia Guerin, da UNESP, apontaram elementos importantes, como a robustez institucional, a busca pela qualidade no trabalho e visão estratégica de planejamento envolvendo os dois países. “Um destaque é a importância de instituições como a Itaipu investirem em ações que valorizem a perspectiva ambiental e a qualidade de vida. Esse posicionamento faz que a instituição tenha um papel de alavancagem de processos de restauração, tornando-se uma referência não só pela capacidade técnica e de implantação de processos de restauração, mas também pelo papel politico institucional num contexto de gestão territorial”, observa Limont.
Na sequência, o representante da Itaipu Paraguai, Jimmy Sosa, falou sobre o Itaipu Preserva: franja de protección para generaciones futuras. A Fundación Vida Silvestre Argentina, representada por Claudia Amicone, trouxe as experiências de restauração no Bosque Atlântico Argentino com foco em elementos como o cuidado e a valorização da escala local, especialmente junto a produtores rurais, que exercem uma função importante e que demandam um maior esforço de projetos de restauração, por envolver aspectos culturais e tradicionais de processos produtivos.
Encerrando a mesa, foram abordados os resultados de projetos de restauração financiados pelo BNDES que atuam nas regiões dos corredores, apresentados por Edilaine Dick, da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi); Vitória Yamada, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e Marcelo Limont, do Mater Natura.
“Cada um tem um arranjo, uma proposta de trabalho, mas todos têm um cuidado das instituições proponentes e de seus parceiros em respeitar a realidade local de cada contexto. Isso é extremamente importante porque nenhum projeto de restauração é igual ao outro. Então, essa diferença entre os três projetos é muito rica em aprendizagem”, comenta Limont.
Financiamento
A segunda mesa trouxe uma dimensão de financiamento, em diferentes contextos. O representante do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e gestor do projeto Corredores de Biodiversidade pelo Programa Restauração Ecológica, Márcio Costa, apresentou cerca de 10 pontos, positivos e negativos sobre financiamento, os desafios e oportunidades que eles têm enquanto instituição financeira que tem o objetivo de promover o desenvolvimento econômico e social. “Temos como diretriz muito forte a captação de recursos, tanto nacionais quanto internacionais, pois se soubermos captar para os programas certos, vamos poder incrementar ainda mais a restauração ecológica no Brasil”, explicou.
Na sequência, a fala foi de Joaquim Freitas, coordenador de projetos do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), organização que em parceria com a Ecosia e o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica desenvolve uma alternativa de financiamento de restauração chamada Projetos de Alavancagem da Restauração Florestal, esforço idealizado pela Ecosia. A Ecosia é um mecanismo de busca na internet, com sede física na Alemanha, a plataforma doa cerca de 80% de sua receita excedente as organizações sem fins lucrativos que fomentam a restauração florestal. “É um formato bastante inovador e ao mesmo tempo prático, sem burocracia, que traz um resultado de incremento para aportar recursos para projetos e instituições de base, viabilizando resultados mais efetivos de restauração”, diz Freitas.
Por fim, Sandro Marostica, da WWF Brasil, trouxe propostas de fomento da cadeia produtiva da restauração, com um modelo que envolve o agricultor, com foco na reserva legal das propriedades rurais, e que serve também como um formato de conservação da biodiversidade. O arranjo envolve o pequeno produtor, instituições para a mediação, como no caso, o WWF, e também as empresas-âncora – que realizam o fechamento do ciclo econômico do processo produtivo, com a compra do que é produzido nesse contexto. “Isso também retorna como capacidade técnica, um ciclo muito oportuno, que busca trazer solução para um dos gargalos da restauração, que é o retorno financeiro”, avalia Limont.
Monitoramento
Durante a tarde, o monitoramento da gestão dos corredores foi o tema da terceira mesa, mediada pelo consultor do projeto Corredores de Biodiversidade, Antonio Carlos Melo, engenheiro florestal, atuante na pesquisa em ecologia vegetal e implementação de projetos em restauração ecológica. Melo e Flávia Rodriguez, bióloga também consultora do projeto, apresentaram resultados do monitoramento realizados até o momento. Na sequência, Edson Santiami, do Pacto da Mata Atlântica-PACTO/Kawa, falou sobre conceitos de persistência, idade da floresta, conectividade e monitoramento de projetos de restauração utilizando geotecnologias – positivas para coordenar os projetos de restauração e também para registrar a recuperação da vegetação nativa local, com redução e custos e a facilitação de processos de planejamento, em diversas escalas.
Os Sistemas de Monitoramento da Biodiversidade de Serviços Ecossistêmicos do Estado do Paraná, que fazem parte do programa Siga_Bio, foram o tema da fala da engenheira florestal Mariese Muchailh, representante do Instituto Água e Terra – IAT (órgão resultante da fusão dos antigos Instituto Ambiental do Paraná – IAP, Instituto das Águas do Paraná e do Instituto de Terras, Cartografia e Geologia ITCG, pela Paraná Turismo, Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) e Agência Paraná Desenvolvimento).
Aspectos sociais e humanos
A última mesa abordou temas que envolvem mais diretamente questões humanas, como diversidade de gênero, e aspectos sociais em interação com projetos de restauração ecológica. As representantes do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (Pacto), Ludmila Pugliese e Narliane Martins, falaram sobre iniciativas que promovem igualdade de gênero e diversidade na restauração florestal. “A ideia é envolver homens e mulheres em projetos de restauração e monitorar a distribuição equitativa de benefícios”, explicou Martins. O destaque foi a importância do acesso à informação sobre diversidade nesses contextos, ponto fundamental para envolver e engajar o público foco nas iniciativas.
Logo depois, Pedro Fogaça, da Diretoria Institucional do Grupo Cataratas, trouxe experiências de concessão envolvendo pequenos produtores rurais e a atuação local numa perspectiva sustentável e de fomento à economia local e justiça social, especialmente envolvendo à produção de alimentos na região. Para Limont, coordenador do projeto Corredores de Biodiversidade “as experiências relatadas são uma forma de tratar as unidades de conservação também como um polo de desenvolvimento local”.
Por fim, a relação entre Sistemas Agroflorestais (SAF) e a restauração nos corredores, tema da pesquisa da bióloga Ana Paula Silva, parte da equipe do projeto Corredores de Biodiversidade do Mater Natura, foi apresentada a partir de um diagnóstico dos SAFs no Corredor. Entre os pontos destacados estiveram oportunidades de políticas públicas que incluam os SAFs, Unidades de Conservação, o fomento para implantação de SAFs pela Itaipu Binacional e de compra de produtos pelo Grupo Cataratas.