Armadilhas fotográficas instaladas pelo projeto “Estudos da Restauração – Pesquisa, Estruturação e Planejamento” registram queixadas, tamanduá-mirim e outras espécies, ampliando o conhecimento sobre interações ecológicas no litoral do Paraná.

FOTO: Mater Natura.
O registro de uma família de queixadas (Tayassu pecari) com filhotes e a passagem discreta de um tamanduá-mirim diante das câmeras instaladas no Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange revelam um retrato raro da fauna nativa e reforçam a importância das áreas protegidas para manter o equilíbrio ecológico na Mata Atlântica paranaense. As imagens foram obtidas no âmbito do projeto “Estudos da Restauração – Pesquisa, Estruturação e Planejamento”, financiado pelo Programa Biodiversidade Litoral do Paraná e coordenado pelo engenheiro florestal Daniel Zambiazzi Miller, com execução do Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais.
Desenvolvido ao longo de dezoito meses, o projeto fortalece Unidades de Conservação e a cadeia da restauração ecológica no litoral do Paraná, em continuidade a iniciativas anteriores estruturadas pelo Mater Natura e parceiros. As ações se concentram em áreas prioritárias do entorno das UCs do litoral sul e do Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange, com apoio técnico do Museu Botânico Municipal de Curitiba, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Laboratório de Dendrologia da UFPR e Laboratório de Sementes Florestais da UFPR.
Para mapear interações entre fauna e flora, especialmente o consumo e a dispersão de sementes de espécies nativas, algumas ameaçadas, foram instaladas armadilhas fotográficas terrestres e arbóreas próximas às chamadas cevas, onde frutos e sementes permanecem disponíveis por cerca de um mês. As coordenadas exatas dos equipamentos não são divulgadas para evitar riscos de caça ilegal.
Queixada: interação inédita com a bucuva
Família de queixadas se alimenta de frutos de bucuva, em registro inédito no Saint-Hilaire/Lange. IMAGENS: Mater Natura.
O registro mais relevante mostra um queixada consumindo frutos de bucuva (Virola bicuhyba), árvore ameaçada pela exploração madeireira. Trata-se da primeira evidência documentada dessa interação nas bases consultadas de frugivoria. Para Daniel Zambiazzi Miller, o achado revela “a conexão direta entre duas espécies ameaçadas e o papel fundamental da fauna na regeneração natural da floresta”.
Onívoro e altamente sociável, o queixada, um porco-do-mato da família Tayassuidae, é considerado ameaçado no Paraná devido à caça e à perda de habitat. A cena reforça o valor das áreas protegidas para manter interações ecológicas essenciais, como a dispersão de sementes.
Tamanduá-mirim: espécie rara reforça diversidade local
Tamanduá-mirim cruza diante da câmera e confirma presença de espécie rara no Parque. IMAGENS: Mater Natura.
Outro registro importante é o do tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), mamífero insetívoro de hábitos solitários, raramente avistado na natureza. Embora não consuma frutos das cevas, sua aparição amplia o banco de dados sobre a fauna do Parque e confirma a presença de espécies sensíveis a distúrbios ambientais. Em outro momento, as câmeras flagraram um gaviãozinho predando uma cobra, evidenciando a complexidade da teia alimentar local.
Da família Myrmecophagidae, o tamanduá-mirim alimenta-se principalmente de formigas e cupins. Seu registro contribui para mapear o uso do habitat por mamíferos e reforça a diversidade de fauna que utiliza a área protegida.
Os registros ajudam a orientar ações de restauração ecológica, indicando quais espécies vegetais oferecem alimento e abrigo e quais interações sustentam a regeneração natural das florestas. Para Daniel, esses dados são decisivos: “escolher bem as espécies a serem plantadas, em processos de restauração de áreas degradadas, significa garantir recursos para que a fauna continue desempenhando seu papel ecológico”.


