Ecologia e Comportamento do Bicudinho-do-Brejo (Stymphalornis acutirostris)
Participação: Instituição proponente e executora
Financiador: Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
Parceiros: Pós-Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/FAPESP (concessão de bolsa de pesquisa para a coordenadora)
Equipe Executora:
Coordenação: Bianca Luiza Reinert
Orientador: Marco Aurélio Pizo Ferreira
Ornitólogo: Marcos Ricardo Bornschein
Estagiários: Marco Aurélio-Silva e Ricardo Belmonte-Lopes
A espécie
O bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris) foi descoberto em 1995 em uma pequena área de brejos próxima à cidade de Matinhos, litoral do Estado do Paraná. Dois anos após a descoberta, a ave já estava constando na lista nacional de fauna ameaçada de extinção. Este status deve-se ao fato da espécie ocupar ambientes únicos, frágeis e fragmentados e por estarem sofrendo alterações pela ação do homem e, principalmente, pela contaminação biológica decorrente da invasão de capins exóticos (e.g. Urochloa arrecta), que descaracterizam o ambiente.
A espécie é da família Thamnophilidae, tem cerca de 10 g de massa corporal e em média 14 cm de comprimento, quando adulto, apresenta dimorfismo sexual, sendo o macho de coloração marrom no dorso e anegrada no ventre, e a fêmea distingue-se pelo ventre todo manchado de branco e preto. A espécie é restrita a Formações Pioneiras de Influência Fluviomarinha, Fluvial e Lacustre inundáveis.
Ocupa essas formações no estágio herbáceo (brejo) e no estágio de transição entre herbáceo e arbóreo, que se caracteriza por um estrato superior arbóreo e um inferior herbáceo, constituído de espécies típicas de brejos. Essas formações são dominadas por Tabebuia cassinoides (caxetal), Calophyllum brasiliense (guanandizal), Laguncularia racemosa (manguezal) ou Annona glabra (ariticunzal). A espécie tem como limite norte de ocorrência a baía de Antonina, no Paraná, e como limite sul o rio Itapocu, em Santa Catarina, região em que ocorre em oito populações isoladas. A área de ocupação foi estimada em cerca de 6.060 ha, dos quais 4.860 no Paraná e 1.200 em Santa Catarina. Ocorre com densidades de 1 indivíduo por 1,6 ha e 8 indivíduos por ha. A população global foi estimada em cerca de 17.700 indivíduos.
Os estudos anteriores
Os projetos anteriores, desenvolvidos ao longo de quase dez anos, foram apoiados pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, pela Fundação MacArthur, pela American Bird Conservancy (ABC) e pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). Aqueles projetos objetivaram conhecer a distribuição geográfica, caracterizar floristicamente os ambientes de ocorrência, quantificar a população e avaliar o status de conservação do bicudinho-do-brejo. A área de estudo abrangeu diversos ambientes, desde formações pioneiras até florestas limítrofes, de toda a faixa costeira do norte de Santa Catarina até o sul de São Paulo.
Ações de conservação
Várias ações voltadas para a conservação da espécie vêm sendo realizadas. Com por exemplo, a parceria com a BirdLife International para o encaminhamento de um parecer técnico ao IBAMA, para alteração nos limites do Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange, que é limítrofe a região que abriga a maior população da espécie. Na proposta, ainda sob avaliação do IBAMA, esta importante área seria incluída nesta Unidade de Conservação. Uma outra ação que está sendo lançada, diz respeito ao reconhecimento da região da baía de Guaratuba como uma Área Úmida de Importância Internacional (Sítio Ramsar). Esta região tem grande potencial para ser reconhecida como um Sítio Ramsar, pois atende quatro dos critérios estabelecidos pela convenção, quando bastaria apenas se enquadrar em um dos critérios.
O presente projeto
Em janeiro de 2006 foi iniciado um novo projeto intitulado “Ecologia e comportamento do bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris)”, com financiamento da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. O objetivo deste estudo seria o levantados de dados, que são fundamentais para complementar as ações de conservação em curso e subsidiar novas ações, para tal, deveriam ser estudados aspectos relativos à dieta alimentar, morfologia, reprodução, nidificação, organização social e territorialidade. Foram realizadas expedições mensais, com duração de 7 ou até 25 dias em campo. Como método, foram utilizadas principalmente técnicas de observações, captura das aves para a marcação com anilhas de identificação e filmagens.
Localização da área de estudo
Estes estudos foram realizados na região da baía de Guaratuba, litoral do Paraná, onde se localiza a maior população do bicudinho-do-brejo e onde o ambiente está em melhor estado de conservação. A região tem extensas áreas de brejos que são dominadas por plantas como Scirpus californicus (piri) e Crinum salsum (cebolama). Estes ambientes localizam-se nos trechos inferiores dos rios que deságuam na baía e em locais interiorizados, como a planície aluvial inundada conhecida como Lagoa do Parado.
Para saber mais sobre a espécie e as pesquisas, consulte a seguinte bibliografia:
BORNSCHEIN, M.R.; REINERT, B.L. & TEIXEIRA, D.M. 1995. Um novo Formicariidae do sul do Brasil (Aves, Passeriformes). Série Publicação Técnico-Centífica do Instituto Iguaçu de Pesquisa e Preservação Ambiental, Rio de Janeiro, nº. 1. 18 p.
REINERT, B.L. & BORNSCHEIN, M.R. 1996 Descrição do macho adulto de Stymphalornis acutirostris (Aves: Formicariidae). Ararajuba 4(2):103-105.
REINERT, B.L. 2001. Distribuição geográfica, caracterização dos ambientes de ocorrência e conservação do bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris BORNSCHEIN, REINERT & TEIXEIRA, 1995 – Aves, Formicariidae). Dissertação de Mestrado. Curitiba: Universidade Federal do Paraná. 84 p.
REINERT, B.L. & BORNSCHEIN, M.R. 1996. Descrição do macho adulto de Stymphalornis acutirostris (Aves: Formicariidae). Ararajuba 4(2):103-105.
REINERT, B.L.; BORNSCHEIN, M.R. & BELMONTE-LOPES, R. 2005. Guaratuba bay, Paraná coast, south of Brazil: a potential area to be designated as Ramsar Site, p. 173. Abstracts… Brasília: XIX Annual Meeting of the Society for Conservation Biology. 246 p.