Crise climática: como podemos agir?

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Por César V. G. Tavares 

Nos últimos dias, testemunhamos a tragédia que assola o estado do Rio Grande do Sul. As imagens, os relatos e os depoimentos são fortes diante da devastação que se revela. O rio Guaíba, juntamente com outros afluentes como o rio Taquari, atingiu níveis históricos ao ultrapassar a marca de 1941, até então o recorde registrado.

Entretanto, é importante recordar que poucos meses atrás, em 2023, já presenciamos três situações de alagamento de grandes impactos no RS, a primeira em junho, no litoral norte e outras regiões, e outras duas em setembro e novembro no Vale do Taquari. Eventos extremos como estes estão se tornando cada vez mais frequentes e essa constatação não é novidade. A comunidade científica vem alertando há anos que a tendência é de intensificação de fenômenos atmosféricos extremos como consequência do aquecimento global.

Atualmente, é o Rio Grande do Sul, mas no final de março deste ano foi o Espírito Santo.  Em março de 2023, testemunhamos deslizamentos impactantes na Vila Sahy, em São Sebastião/SP. No mesmo ano, em novembro, o estado de Santa Catarina foi atingido por fortes chuvas e, em 2022, Petrópolis/RJ foi arrasada. No entanto, não podemos nos enganar achando que os impactos das mudanças climáticas se limitam apenas a intensas chuvas. Em 2023, enfrentamos a maior estiagem registrada no Amazonas e o Paraná teve a maior estiagem dos últimos cem anos entre 2018 e 2021. E quem não se lembra do “volume morto” dos reservatórios de São Paulo em 2014?

Esses são alguns dos tantos eventos extremos que podemos citar, mas o fato é que as Mudanças Climáticas e os impactos associados já são uma realidade e, infelizmente, serão parte do “cotidiano”. Apesar dos eventos de grandes proporções que presenciamos, seja no Brasil ou em outros países, esse “novo normal” pode ainda ser amenizado. Porém, vamos (sociedade) precisar passar por fortes transformações, com avanços diários e em diferentes frentes. 

Um bom planejamento e ordenamento do território por parte do poder público é essencial, o que inclui a expansão de infraestruturas verdes na paisagem. Um exemplo ilustrativo é o caso de Porto Alegre, onde o município enfrentou as consequências de um processo hidrológico devastador, desencadeado centenas de quilômetros rio acima e gradualmente foi se intensificando até chegar ao município. Para aumentar a resiliência, é importante pensar em escala de bacias hidrográficas, abrangendo todas as suas partes, e buscar medidas para amortecer o impacto de chuvas intensas tanto nas cabeceiras quanto em outras áreas mais elevadas.

Além disso, avanços na geração de dados, informações e metodologias pela comunidade científica são fundamentais para futuros aprimoramentos. É importante também que a temática seja incorporada ao currículo escolar e disseminada por agentes transformadores devidamente capacitados. A transição energética é outro aspecto fundamental a ser considerado. Enfim, o desafio é altamente complexo e há uma urgência premente em estabelecer estruturas de governança nos territórios, envolvendo todos os setores da sociedade, permitindo que comunidades e indivíduos desenvolvam resiliência climática.

O contexto dos impactos das mudanças climáticas já se iniciou há décadas, e vai se estender pelas próximas vindouras. Neste sentido, o Mater Natura tem procurado contribuir de forma coletiva com a sociedade, participando de fóruns das OSC para discussão de políticas públicas para a temática e desenvolvendo projetos para a mitigação destes impactos na biodiversidade e comunidades humanas mais vulneráveis.

César V. G. Tavares é associado do Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais e atua na frente de Adaptação à Mudança Climática no projeto “Olha o Clima, Litoral!”. É engenheiro florestal e especialista em Gerenciamento Ambiental e Conservação da Natureza. Atua com a avaliação de serviços ecossistêmicos por meio de ferramentas de modelagem e na elaboração de planos estratégicos, sobretudo na construção de portfólio de áreas e ações prioritárias relacionados à conservação da natureza, ao desenvolvimento local e à segurança hídrica.

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